A comida tem sido uma válvula de escape para você?

A comida tem sido uma válvula de escape para você?

Algumas pessoas conseguem ter uma alimentação regrada, sem exageros. Outras, ao contrário, estão sempre cometendo excessos. A principal diferença entre elas é que estas últimas descontam problemas, frustrações e ansiedades na comida, enquanto as outras não.
 
“Ao usar o alimento como válvula de escape, elas associam o relaxamento pós-refeição, normal depois de um almoço ou jantar, à diminuição do mal-estar emocional. O organismo passa a produzir substâncias para a digestão e o foco muda, a ansiedade e o nervosismo caem. Quem não usa os prazeres à mesa com essa finalidade, busca outras formas de compensação, como fazer atividade física, que igualmente proporciona bem-estar, prazer e relaxamento”, explica Alfredo Cury, endocrinologista e proprietário do Spa Posse do Corpo (Petrópolis, RJ), membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
 
O hábito de “chutar o balde” na alimentação pode ser provocado por vários fatores: exemplo familiar, pouca autoestima e satisfação pessoal, vida social precária, problemas financeiros, questões psicológicas de maneira geral, cotidiano sem prazer ou divertimento, dificuldades de interação com o mundo.
 
“Além da ansiedade, detonador mais clássico, outras variantes ajudam, como irritabilidade, pressão no trabalho e depressão”, completa Sílvia Bretz, especializada em Endocrinologia e Nutrição Médica pela Santa Casa de Misericórdia (RJ), membro da American Society of Clinical Endocrinologists e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
 
 
Círculo vicioso
Em relação às características comuns a essas pessoas, a endocrinologista diz que são indivíduos em geral ansiosos, que trabalham demais e não têm tempo para nada. “No momento em que relaxam, comem e bebem além da conta. Há, também, o tipo introspectivo que descobre na comida – e, às vezes, também na bebida – uma válvula de escape.”
 
A questão é que, se os abusos acontecem sempre, é muito provável que tragam enfermidades. A lista é longa: sobrepeso, obesidade, diabetes, aumento da pressão arterial e de taxas como colesterol, triglicerídeos e glicose, males cardiovasculares, problemas na vesícula, cálculos, cólicas, dificuldades digestivas, perda de ritmo intestinal, náuseas, enjôo e diarreia. “O pior é que haverá o agravamento de sentimentos como ansiedade, insatisfação pessoal, culpa, baixa autoestima… E, com isso, o sujeito come mais e mais, em um círculo vicioso”, alerta Bretz.
 
 
 
Terapia pode ajudar
Para saber o limite entre uma escapadela e a rotina de viver na overdose da alimentação, o melhor é se observar mais de perto. “Tem que prestar atenção nos momentos em que a pessoa se descontrola frente à comida, na maioria das vezes rica em calorias. Se acontecem em situações desfavoráveis, em que o indivíduo se sente mal e acredita melhorar após a refeição, é sinal vermelho de que está descontando angústia, decepção, tristeza. O melhor, então, é procurar uma terapia, pois podem surgir outros problemas – como de saúde – que só vão agravar o quadro”, salienta Alfredo Cury.
 
Para Sílvia Bretz, o equilíbrio é o desafio do ser humano. Se os excessos, que ocorriam de três em três dias, passam a acontecer de dois em dois, e depois diariamente ou várias vezes ao longo do dia, especialmente no fim da tarde ou à noite, é importante buscar auxílio.
 
“Além dos citados males à saúde, a falta de comedimento pode levar a transtornos alimentares – bulimia, anorexia nervosa, compulsão de comer – de diagnóstico difícil e que precisa ser feito por especialistas, além de exigir tratamento adequado.”
 
 
Bem-estar é consequência
Os benefícios de quem se alimenta de forma regrada e balanceada, ao contrário, são evidentes. O principal deles, a consciência do que se come e do valor de uma boa nutrição. “Além de evitar o surgimento de diversas patologias, essas pessoas dificilmente apresentarão variações na balança ou efeito sanfona. Sabem que, se saírem da regra e cometerem abusos, no dia seguinte retornarão a sua rotina alimentar. Tudo com bom senso”, diz Alfredo Cury.
 
Corpo são, mente sã, complementa Sílvia Bretz. “No organismo desses indivíduos, tudo funciona melhor: digestão, circulação, sistemas nervoso e linfático, intestino, sono… A pele fica com viço, há autoestima e autoconfiança. Por isso, vale a pena investir em uma alimentação de qualidade, nem que para isso seja preciso recorrer a profissionais – terapeutas, nutricionistas – que vão auxiliar no processo.”
 
 
 
Fonte: Uol Saúde